terça-feira, 3 de abril de 2007

Ao Vladimiro Silva

Gostaria de esclarecer, em primeiro lugar, que se tem alguns valores que não estão correctos no meu post anterior, não foi por má fé, apenas pelo simples motivo de não encontrar facilmente dados em Portugal, os dados por mim utilizados foram os mesmos utilizados pela autoridade da concorrência aquando da análise do sector em Portugal.
O seu terceiro ponto no comentário que deixou: Quantos sectores na economia pensa que têm margens legais a regular o seu funcionamento? A minha análise não é Portugal contra os outros países, é concorrência perfeita ou não. Existem neste sector restrições do lado da oferta, com limitação de entradas no sector, limites de propriedade e as restrições de natureza quantitativa.
Ponto número quatro: Compreendo que não haja confiança no governo, se estivesse no lugar de um proprietário de farmácia também não confiaria no governo, contudo penso que a ANF serve os farmacêuticos, mas não se servirá também dos farmacêuticos?
O seu quinto ponto: Não possuo dados referentes à densidade populacional do Reino Unido para comparar com Portugal, nem sequer da legislação local, estes factores podem enviesar uma análise tão simplista dos números.
A questão da concorrência por só haver 3 concorrentes na Noruega, compare os preços dos bens nas dezenas de lojas de bairro (antes das grandes superfícies) com os preços na cidade de Aveiro com a existência de grandes superfícies (Feira Nova, Carrefour, Jumbo, Pingo Doce), estas passaram a representar mais de 90% das vendas de produtos alimentares no concelho e os preços caíram drásticamente. A concentração não significa menos concorrência.
O seu ponto seguinte: o monopólio é comercial, não é só quando um bem é fornecido apenas por um fornecedora nível nacional, se preferir eu uso a palavra oligopólio. A verdade é que o lobby do sector tem mantido o número de participantes no sector limitado, com forte regulação criando monopólios locais como afirmei antes. Coloque-se na pele de uma morador na Torreira, acabou de sair do centro de saúde local com uma receita. A que farmácia vai? Tem algum incentivo a andar uns quilómetros para ir a outra farmácia? (eu estou a falar em média, sem casos particulares).
A ANF, desculpe se pensa de outra maneira, é o veículo que mantêm as coisas mais ou menos como estão, os prejudicados são os consumidores finais.
Por fim, a minha escolha para a localização de uma farmácia seria exactamente Canelas, se possível no largo do Campo da Cruz, quanto a mim seria o local que maximizaria o meu número de clientes no panorama actual. Não em Estarreja.
Quanto aos pagamentos, certamente não confiaria no Estado se estivesse na pele de um proprietário, certamente os 1,5% cobrados pela ANF não são pela bondade do coração do senhor Cordeiro mas sim pelo conhecimento de que nunca nenhum estabelecimento actual conseguiria uma taxa mais baixa no mercado de capitais. Quanto aos 8 dias do pagamento que refere, sempre foi assim? Ou foi uma coisa que sempre podia ter sido feita e quando o Estado fez uma proposta igual à que a ANF tinha em vigor o senhor Cordeiro mandou fazer esta alteração? Se eu estiver certo e os 8 dias for uma coisa bastante recente então afinal a ANF está a fovorecer os seus associados?
Os sectores onde Portugal se destaca a nível mundial: Vinhos de mesa, sector do vidro, têxteis lar, sector de rolhas de cortiça e outros derivados, pavimentos e revestimentos cerâmicos, moldes, sector do cimento e alguns outros materiais de construção, sector da embalagem...

5 comentários:

Vladimiro Jorge Silva disse...

Caro Mazzoni: o que lhe pretendi mostrar no comentário generalista que escrevi é que as coisas não são tão simples como à partida possam parecer e a Saúde é um mercado que está muito longe de ter um funcionamento "perfeito", ou se preferir, semelhante ao dos outros mercados. Aliás, se ler a base da decisão da Comissão Europeia que fez com que os serviços de saúde fossem excluídos da famosa Directiva Bolkestein, poderá encontrar algumas das razões técnicas que há muito estão sobejamente demonstradas e que sustentam isto mesmo. No caso da Saúde as coisas não funcionam assim, pois não há livre escolha dos consumidores, há uma maior assimetria da informação entre prestadores e consumidores e nem sequer são os consumidores quem determina a sua própria procura.
Por outro lado, acredite que se conhecesse o mercado de serviços de saúde do concelho não iria abrir qualquer farmácia em Canelas ou Fermelã, pois estas freguesias têm respectivamente 1486 e 1482 habitantes, sendo que a maioria da população activa trabalha fora da freguesia, quase toda em cidades como Aveiro ou Estarreja. Poderia detalhar mais o assunto (se quiser um dia destes poderemos voltar a conversar sobre isto), mas com base em cálculos que fiz há tempos, seria mais rentável abrir uma terceira farmácia em Avanca (actualmente só há uma), uma segunda em Salreu ou uma quarta em Estarreja (actualmente só há duas).
Por outro lado, não se baseie no estudo da AdC, que tem erros grosseiros de palmatória e é profundamente enviezado. Aliás, esse estudo ficou célebre pois as suas conclusões (que, apesar de tudo, são bastante diferentes do conteúdo do estudo) foram anunciadas antes mesmo do estudo começar... enfim, trata-se de um trabalho político e que já foi tecnicamente desmontado e arrasado por várias pessoas, incluindo vários não-farmacêuticos.
Para terminar: a ANF é parte da solução e não parte do problema. Se alguém tem razões de queixa da ANF, poderá livremente deixar a Associação. É evidente que a ANF não é perfeita e em alguns aspectos até tem tido atitudes bastante criticáveis. No entanto, seguramente que não é pelas razões que têm sido referidas nos media...

Pedro Javier Mazzoni disse...

Compreendo perfeitamente que esteja a expôr os seus pontos de vista com uma base de informação superior à minha, entendo até a sua argumentação que alguns meios mais rurais possam ser preteridos na escolha para localização de novas farmácias, afinal ninguém abre um negócio por altruísmo e que este factor se faça sentir mais em concelhos mais do interior do que propriamente por aqui. Certamente terá de concordar que a possibilidade de efectuar descontos nos medicamentos, visto a qualidade não ser alterada, é um bom princípio para haver concorrência e favorecer as farmácias mais eficientes. Compreendo também que com a liberalização da propriedade que se assista a movimentos de consolidação por parte de grandes grupos. Quanto à ANF, aqui acredito realmente que esteja bastante mais informado do que eu, mas quanto à percentagem que referi e aos prazos de pagamento às farmácias, são apenas operações financeiras com vista à maximização de lucro da instituição, não ao favorecimento de associados. Não foi inventado pela ANF, é utilizado em vários sectores, não é comum em Portugal.

Vladimiro Jorge Silva disse...

A questão é um pouco mais complexa, pois o core business da ANF não é a concessão de financiamentos às farmácias (através da sociedade de factoring Finanfarma, recentemente constituída). Aliás, não é difícil verificar que se compararmos os 1,5% (em pagamento único) com as taxas de juro de factoring actualmente em vigor no mercado (4-5%), só a partir de 6 meses de atraso do pagamento do Estado é que a ANF fica mais barata.
Ou seja, os 1,5% não pagam apenas o capital, mas principalmente uma série de sofisticados e muito desenvolvidos serviços que a ANF proporciona às farmácias.

Pedro Javier Mazzoni disse...

4,5% é a taxa de desconto usada para fazer as análises? Já agora podia dizer-me qual é o prazo médio que o Estado demora a pagar à ANF e qual era o prazo antes da ANF?

Vladimiro Jorge Silva disse...

Olá Mazzoni. 4 a 5% foi apenas uma estimativa, que até penso estar subavaliada, pois como diz o José Pedro Vasconcelos, a Euribor tem estado descontrolada... :)
Em relação ao prazo... depende do governo, da Administração Regional de Saúde, do défice, da onda política em curso e sei lá mais de quê.
Antes da ANF os pagamentos demoravam sempre mais de um ano e muito frequentemente mais de dois anos. Já depois da ANF aparecer tem havido várias "ondas": Alberto João Jardim chegou a estar mais de 3 anos sem pagar um cêntimo às farmácias da Madeira e várias vezes algumas dívidas excederam os dois anos... neste momento não tenho dados concretos sobre esta matéria, mas segundo informações não oficiais que obtive junto de amigos, a dívida média nacional (pois cada ARS tem a sua própria dívida) andará em cerca de 6 meses.